domingo, 30 de abril de 2017

Lutas na esquipe

22/06/2009 _  Rita _ 10:30hs

SENSIBLIZAÇÃO: A Well's Dairy, em LeMars, Iowa (EUA), tem 3 mil funcionários e vende o sorvete Blue Bunny em todo o mundo. A recente consolidação da indústria impôs um desafio. Em 2002, os maiores revendedores disseram que transportariam somente produtos de grandes fabricantes. Segundo Tom Posey, vice-presidente de capacidade organizacional, para ser viável em longo prazo, a empresa deveria estar entre as três maiores do ramo, o que significava elevar vendas, desenvolver uma rede de distribuição eficiente e um controle rigoroso das finanças.
Um dos maiores desafios enfrentados pela equipe executiva recém-constituída foi encontrar meios para resolver conflitos. Num esforço para tornar a rede mais eficiente, a companhia introduziu um novo sistema de armazenamento dos estoques e redefiniu procedimentos para o transporte de produtos. Porém, conflitos internos da equipe executiva representavam um detalhe crítico que nunca seria resolvido sem um treinamento coletivo. Motoristas não encontravam os produtos de que necessitavam e eram obrigados a multiplicar as viagens para o carregamento de seus caminhões. Ao perceber que a equipe precisava de ajuda profissional, Posey levou um instrutor do Centro de Lideranças Criativas de Greensboro, Carolina do Norte. Em seis meses, os membros da equipe aprenderam a administrar os conflitos, o que resultou em decisões melhores e mais rápidas. As vendas aumentaram, a empresa conquistou maior participação de mercado, e os integrantes desafiam-se abertamente.
As pessoas não entendiam por que seus colegas reagiam de um determinado modo. Para preencher essa lacuna de conhecimento, instrutores propuseram aos membros da equipe da Wells' Dairy estimativas determinadas por eles mesmos, como avaliação de qualidade. O instrutor dividiu as descobertas com o grupo, destacando como os conflitos e as transformações na empresa podem ajudar ou atrapalhar o processo de produção. Depois que todos os integrantes do time executivo da WellsDairy realizaram avaliações, o instrutor mediou a discussão sobre o impacto de diferentes personalidades no dia-a-dia.

Estamos em meados do ano de 2.009 e já começamos a nos preocupar com o que poderá acontecer em 2010, que aparentemente exigirá muito trabalho de todos nós, principalmente daqueles que ainda tiverem trabalho. Não sou pessimista, muito pelo contrário. Sou uma pessoa que confia na capacidade de construirmos um mundo melhor e na superação de qualquer dificuldade.
Vamos passando por mais uma crise. Entre as manchetes diárias das cotações e as inúmeras previsões dos economistas de plantão, ficamos estupefatos com a queda do Airbus, maravilhados com o desempenho impensável da Susan Boyle (e ela mais ainda com o inesperado sucesso) e preocupados o tempo todo com o futuro das nossas carreiras e empresas.
Porém, segundo os governantes, analistas financeiros, empresários e outros representantes da sociedade, é muito grave a atual crise. Podemos estar entrando numa crise sem precedentes na história de nossa civilização. Por quê? Porque não temos a menor idéia do que vamos enfrentar e ninguém viveu algo parecido em complexidade e dimensão.
Todo o Brasil vivia até poucos meses atrás uma expectativa de que, enfim, iniciávamos um período de grande crescimento econômico depois de tantos anos ouvindo que éramos o país do futuro. E tudo levava a crer que o futuro se tornara presente. Ledo engano. Mais uma vez vimos nossas esperanças virarem pó, e o presente novamente virou futuro.
Ouvi de amigos o comentário de que saímos do céu para o inferno sem escala. Em poucos dias a euforia transformou-se em depressão e as pessoas começaram a temer pelo seu futuro. Desinformação, informações incorretas ou exageradas criaram um pânico generalizado que transformou as Bolsas de Valores de todos os países em montanhas-russas, com oscilações absurdas e perdas estratosféricas para toda a sociedade.
Acredito que sim, temos que repensar o nosso modelo mental, reformulando nosso plano de vida diante dessa nova perspectiva e desse cenário. Não será fácil até por que há um número muito grande de pontos e possibilidades ainda desconhecidos de todos nós.
Essas mudanças exigirão muita determinação, dedicação, coragem, trabalho e fé em nós mesmos e nos outros. Teremos que aprender a compartilhar mais, a dividir com quem mais precisa, e a olhar com novos olhos, considerando agora mais os interesses comuns e menos os individuais.
Não há espaço para atitudes mesquinhas nesta hora de grandes perdas. A união de todos na busca por melhores soluções é que permitirá que possamos sair dessa crise com mais experiência, organização e, principalmente, mais preparado para construir um mundo melhor e mais justo, um mundo sustentável. É isso que vai nos permitir começar uma nova fase na história da humanidade.
O caos pode ser criativo, dando origem a outra ordem diferente e melhor. A crise teria, portanto, uma função purificadora, abrindo espaço para uma outra oportunidade de produção e de consumo.
Não precisamos recorrer ao ideograma chinês de crise para saber de sua significação como risco e oportunidade. Basta recordar a sânscrita matriz das línguas ocidentais.
Em sânscrito, crise vem de "kir" ou "kri" que significa purificar e limpar. De "kri" vem também crítica que é um processo pelo qual nos damos conta dos pressupostos, dos contextos, do alcance e dos limites seja do pensamento, seja de qualquer fenômeno. De "kri" se deriva, igualmente, crisol, elemento químico com o qual se limpa ouro das gangas e, por fim, acrisolar que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa a oportunidade de um processo critico, de depuração do cerne: só o verdadeiro fica, o acidental cai sem sustentabilidade.
No campo da Psicologia, em particular da Psicologia do Desenvolvimento, o conceito de crise é explicado como toda a situação de mudança a nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo, um esforço suplementar para manter o equilíbrio ou estabilidade emocional. Corresponde a momentos da vida de uma pessoa ou de um grupo em que há ruptura na sua homeostase psíquica e perda ou mudança dos elementos estabilizadores habituais.
Todos nós temos os momentos de crises, as fases mais difíceis. A vida vai seguindo seu curso, tudo correndo normalmente, até que chega um momento em que os problemas aumentam. A dificuldade se intensifica, acontecem surpresas desagradáveis: é a hora da crise. Pode ser uma doença grave, reveses financeiros, dificuldades de relacionamento, perda de entes queridos, seja pela desencarnação, ou por abandono de uma das partes, o lar desfeito, etc. Quem vive tranqüilamente, sem maiores dificuldades, deve se preparar para os momentos difíceis, que certamente chegarão. Sim, porque todos passamos ou passaremos por eles. Até mesmo aquele que parece indene a tais dificuldades, da morte do corpo, ou seja, da desencarnação, ninguém escapa. E o momento da passagem para o outro plano da vida certamente se constitui num momento difícil, num teste sério.
A crise é como a prova que o estudante faz para ser promovido a um estágio superior. Durante o ano letivo, o estudante trabalha com as matérias do programa, recebe a orientação dos professores, tem todas as oportunidades para se preparar para o dia da prova. Realiza exercícios, participa das aulas, faz pesquisas, enfim tem toda a liberdade e apoio para realizar o aprendizado. Porém, no momento do teste, deverá demonstrar o que aprendeu. Não poderá valer da ajuda de colegas, nem recorrer a fontes de consulta, nem a apontamentos.
As crises da vida são assim como a prova referida, como esse teste a que o estudante se submete. E vale notar que assim como o teste na escola, ou uma prova num concurso, é realizado para uma promoção, para o bem do candidato; assim também os testes da vida ocorrem para o bem, para o progresso da criatura. Sua finalidade é o aperfeiçoamento do Espírito, fazer com que ele ganhe mais confiança em si mesmo e em Deus; conquiste uma situação melhor.
E como reagimos a esses testes, às crises da vida? O candidato que se submete a um concurso para obter um emprego, e o estudante que faz a prova com vistas a "passar de ano", fazem-no de bom grado, ciente de que é para o seu bem. Tais provas não são realizadas para sacrificar, simplesmente, o candidato, e sim visando aferir sua capacidade, para uma promoção. Desta maneira devemos enfrentar as crises da vida, os momentos de dificuldade, que acontecem não para massacrar, mas para nos promover. Vê-los como um desafio é uma atitude de sabedoria.
Há três formas de reação, nessas ocasiões:
1.°) há os que se revoltam. "Por que Deus fez isto comigo?" - dizem. Como se Deus os estivesse punindo, caprichosamente. E chegam, mesmo, a "brigar" com Deus, afastam da religião, dizem que perderam a fé. (Será que possuíam fé?). São os revoltados. Esses, ao que tudo indica, não passaram no teste. Terão que repetir a lição. Acrescentam dores desnecessárias ao processo evolutivo.
2.°) Há os que se deixam abater. Passam a se considerar derrotados, vencidos, apassivados diante de outras situações. Tornam-se pessimistas, amargurados. Também não lograram êxito no teste.
3.°) Finalmente há aqueles que, conforme diz a letra da música popular, "levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima". São os regenerados, os que recebem a crise, a dificuldade, aceitam-na sem se acomodarem. Reúnem suas forças, recorrem à oração, e com confiança em Deus e em si próprios vão superando as dificuldades. Aproveitam plenamente o benefício da experiência. A crise, a dor forte, revela-lhes a coragem, a fé fortalecida, e a capacidade de luta.
A crise pode ser definida como uma fase de perda, ou uma fase de substituições rápidas, em que se pode colocar em questão o equilíbrio da pessoa. Torna-se, então, muito importante a atitude e comportamento da pessoa face a momentos como este. É fundamental a forma como os componentes da crise são vividos, elaborados e utilizados subjectivamente.
A evolução da crise pode ser benéfica ou maléfica, dependendo de fatores que podem ser tanto externos, como internos. Toda a crise conduz necessariamente a um aumento da vulnerabilidade, mas nem toda a crise é necessariamente um momento de risco. Pode, eventualmente, evoluir negativamente quando os recursos pessoais estão diminuidos e a intensidade do stress vivenciado pela pessoa ultrapassa a sua capacidade de adaptação e de reacção.
Mas a crise é vista, de igual modo, como uma ocasião de crescimento. A evolução favorável de uma crise, conduz a um crescimento, à criação de novos equilíbrios, ao reforço da pessoa e da sua capacidade de reacção a situações menos agradáveis.
Assim, a crise evolui no sentido da regressão, quando a pessoa não a consegue ultrapassar, ou no sentido do desenvolvimento, quando a crise é favoravelmente vivida.
O individuo passa por várias crises desde os seus primeiros dias de vida até ao final da adolescência. Nesta perspectiva, a crise é maturativa, proporciona aprendizagem.


CRIATIVIDADE NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS _ Por: Maria Inês Felippe
O conflito pode ser comparado com a evolução da espécie: aqueles que sobrevivem são os que vão se adaptando ou transformando-se.
Empresa é um lugar privilegiado de conflitos pessoais, profissionais, de interesses, de ideologias, assim como atender clientes e negociar.
As crises existenciais percorrem a nossa vida desde o nascimento, na infância, na adolescência, na juventude, na fase adulta, nos relacionamentos interpessoais, na escolha da profissão, na aposentadoria, etc.
Podemos perceber o conflito como risco ou oportunidade, o que exige de nós uma atitude pró-ativa, levando por terra o ditado popular "depois da tempestade vem a bonança".
1)A falta de imaginação atua como responsável e geradora de conflitos: as partes se recusam a imaginar o que os outros podem fazer, pensar ou sentir. As pessoas agem como se desconhecessem as diferenças.
2)Somente escutar as pessoas não garante a sua resolução. Entender e trabalhar questões da diversidade passa a ser fundamental para uma administração moderna.
3)Quando falamos de diversidades, não estamos nos referindo a raça, sexo ou religião, ou diferenças no mesmo nível hierárquico, mas estamos nos referindo à formas de pensamento e ideologias, em todos os níveis hierárquicos, tanto horizontal como vertical.
4)O silêncio poderá ser uma grande fonte de indicativo de conflitos, sua resolução poderá dar-se através da negociação
5)Negociar é alcançar objetivos através de um acordo em situações que ocorrem pensamentos divergentes e convergentes. Faz parte da nossa vida desde os povos primitivos. Viver é negociar.
6)Exercícios de pensamento lateral e técnica de solução criativa de problemas poderão facilitar no ato de resolução do conflito.
7)A criatividade no processo de resolução de conflitos favorece a flexibilidade, oferece melhor aproveitamento da diversidade e da conciliação de situações opostas, encarando e conduzindo a negociação a favor de ambas as partes. Ela favorece enxergar o que todos enxergam, mas visualizando coisas diferentes, transformando riscos em oportunidades, identificando algo a mais do que o cotidiano, favorecendo contornar objeções, agindo proativamente.
A pessoa pró-ativa e criativa possui uma postura sempre firme em relação aos diversos problemas que enfrenta, não só no mundo corporativo como também diante da vida. Ela não quer fazer parte do problema, mas sim da solução. Considerando a economia globalizada em que vivemos, cada vez mais temos de pensar criativamente e agir estrategicamente. Cabe ressaltar: É uma questão do ponto de vista. Podemos perceber o conflito como algo: Já que todos os problemas são solucionáveis, é importante que sejam bem definidos. Procure idéias e resolva criativamente. Temos que ter cuidado na resolução dos conflitos para não gerar outros.
O que percebemos é que, por alguma razão, parece que a natureza humana exige que as pessoas ajam rapidamente quando enfrentam um problema. Quando surge uma dificuldade, elas buscam a resolução sem clarificar ou analisar o problema. Como conseqüência, elas não resolvem os problemas ou os resolvem equivocadamente, causando, assim, outros conflitos, provocando o sentimento de frustração.

Yazaki, um empresário japonês, contado pela física quântica Danah Zohar, num precioso livro que aconselharia aos empresários a lê-lo “A Inteligência Espiritual”, herdou uma pequena empresa de mala direta. Expandiu-se pelo mundo inteiro. Conseguiu tudo o que queria: sucesso, riqueza, respeito da comunidade e uma família integrada. Mas sentia que algo lhe faltava. Corroia-o grande vazio interior. Sugeriam-lhe que frequentasse um mosteiro zen. Passou lá uma semana em meditação com um mestre respeitado. Encontrou-se com seu eu profundo e a conexão que ele mantém  com o todo.  Deu-se conta de que os bens materiais se mostravam ilusórios porque não o preenchiam, apenas lhe davam satisfação material.
Saiu do mosteiro com um outro olhar. Começou a perceber a beleza de uma cerejeira em flor e a singeleza de um caqui maduro. Em sua auto-biografia escreveu:”Os seres humanos separaram o eu do mundo, a natureza da humanidade e o eu pessoal dos outros eus. Por isso caíram na armadilha das ilusões no esforço  de preencher o eu vazio. E se fizeram vítimas fatais de um aterrador cenário de autoengano, de hipocrisia e de farisaísmo”.
A experiência espiritual não o levou a abandonar o negócio. Deu-lhe um outro sentido. Trocou o nome da empresa, chamando-a de “Felicíssimo”, combinação de “feliz” das línguas latinas. A acumulação devia destinar-se a aumentar a felicidade humana, dele e a dos outros. Esteve na Rio-92 para inteirar-se dos problemas ambientais. Destinou grande parte de sua fortuna a fundações que cuidam da educação e do ambiente. Termina seu livro dizendo: “servir nesse nível é servir a Deus”. Com ele, a crise foi superada e a humanidade deu um pequeno salto na direção daquilo que deve ser.
Leonardo Boff é autor do livro “Responder florindo: da crise de civilização a uma revolução realmente humana”,Garamond, Rio.



Há uma fábula que mostra o a autenticidade do ser: É sobre uma centopéia que sabia dançar bem e chamava muito a atenção por isso. Uma tartaruga invejosa perguntou à centopéia em que seqüência ela mexia suas 100 perninhas enquanto dançava. Aí, a centopéia, pela primeira vez, parou para pensar sobre o assunto e... desaprendeu a dançar.




Não desperdiçar as oportunidades da crise _ Leonardo Boff
Face ao cataclismo econômico-financeiro mundial se desenham dois cenários: um de crise e outro de tragédia. Tragédia seria se toda a arquitetura econômica mundial desabasse e nos empurrasse para um caos total com milhões de vítimas por violência, fome e guerra. Não seria impossível, pois o capitalismo, geralmente, supera as situações caóticas mediante a guerra. Ganha ao destruir e ganha ao reconstruir. Somente que hoje esta solução não parece viável, pois uma guerra tecnológica liquidaria com a espécie humana; só cabem guerras regionais sem uso de armas de destruição em massa.
Outro cenário seria de crise. Para ela, não acaba o mundo econômico, mas este tipo de mundo, o neoliberal. O caos pode ser criativo, dando origem a outra ordem diferente e melhor. A crise teria, portanto, uma função purificadora, abrindo espaço para uma outra oportunidade de produção e de consumo.
Não precisamos recorrer ao ideograma chinês de crise para saber de sua significação como risco e oportunidade. Basta recordar a sânscrita matriz das línguas ocidentais.
Em sânscrito, crise vem de "kir" ou "kri" que significa purificar e limpar. De "kri" vem também crítica que é um processo pelo qual nos damos conta dos pressupostos, dos contextos, do alcance e dos limites seja do pensamento, seja de qualquer fenômeno. De "kri" se deriva, outrossim,  crisol, elemento químico com o qual se limpa ouro das gangas e, por fim,  acrisolar que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa a oportunidade de um processo critico, de depuração do cerne: só o verdadeiro fica, o acidental cai sem sustentabilidade.
Ao redor e a partir deste cerne se constrói uma outra ordem que representa a superação da crise. Os ciclos de crise do capitalismo são notórios. Como nunca se fazem cortes estruturais que inaugurem uma nova ordem econômica, mas sempre se recorre a ajustes que preservam a lógica exploradora de base, ele nunca supera propriamente a crise. Alivia seus efeitos danosos, revitaliza a produção para novamente entrar em crise e assim prolongar o recorrente ciclo de crises.
A atual crise poderia ser uma grande oportunidade para a invenção de um outro paradigma de produção e de consumo. Mais que regulações novas, fazem-se urgentes alternativas. A solução da crise econômico-financeira passa pelo encaminhamento da crise ecológica geral e do aquecimento global. Se estas variáveis não forem consideradas, as soluções econômicas, dentro de pouco tempo, não terão sustentabilidade e a crise voltará com mais virulência.
As empresas nas bolsas de Londres e de Wall Street tiveram perdas de mais de um trilhão e meio de dólares, perdas do capital humano. Enquanto isso, segundo dados do Greenpeace, o capital natural tem perdas anuais da ordem de 2 a 4, trilhões de dólares, provocadas pela degradação geral dos ecossistemas, desflorestamento, desertificação e escassez de água. A primeira produziu pânico, a segunda sequer foi notada. Mas desta vez não dá para continuar com o "business as usual".

O pior que nos pode acontecer é não aproveitar a oportunidade advinda da crise generalizada do tipo de economia neoliberal para projetar uma alternativa de produção que combine a preservação do capital natural com o capital humano. Há que se passar de um paradigma de produção industrial devastador para um de sustentação de toda a vida.
Esta alternativa é imprescindível, como o mostrou corajosamente François Houtart, sociólogo belga e grande amigo do Brasil, numa conferência diante da Assembléia da ONU em 30 de outubro do corrente ano: se não buscarmos uma alternativa ao atual paradigma econômico em quinze anos 20% a 30% das espécies vivas poderão desaparecer e nos meados do século haverá cerca de 150 a 200 milhões de refugiados climáticos. Agora a crise em vez de oportunidade vira risco aterrador.
A crise atual nos oferece a oportunidade, talvez uma das últimas, para encontrarmos um modo de vida sustentável para os humanos e para toda a comunidade de vida. Sem isso poderemos ir ao encontro da escuridão.

Os filósofos e a crise _ Leonardo Boff
Curiosamente, não são poucos os analistas, que vêem a crise atual para além de suas várias expressões (energética, alimentaria, climática, econômico-financeira) como uma crise da ética.
Mesmo que a crise demande um novo paradigma para ser sustentável em longo prazo, é urgente encontrar medidas imediatas para que todo o sistema não sossobre, levando tudo de roldão. Seria irresponsabilidade não tomar medidas ainda dentro do sistema, mesmo sem uma solução definitiva.
Vejo dois valores éticos fundamentais que devem estar presentes para que a situação encontre um equilíbrio aceitável. Dois filósofos alemães nos podem iluminar: Immanuel Kant (+1804) e Martin Buber (+1965). O primeiro se refere à boa-vontade incondicional e o segundo à importância da cooperação.
Diz Kant em sua Fundamentação para uma metafísica dos costumes (1785): “Não existe nada em nenhum lugar do mundo nem fora dele que possa ser considerado irrestritamente bom senão a boa vontade”. Que ele quer dizer com isso? A boa vontade é a única atitude que, por sua natureza, é somente boa e à qual não cabe nenhuma restrição. Ou a boa vontade é boa ou não há boa vontade. Ela é o pressuposto primeiro de toda ética. Se alguém desconfiar de tudo, se colocar tudo em dúvida, se não confiar mais em ninguém, não há como estabelecer uma base comum que permita a convivência entre os humanos.
Vale dizer: quando os G-7 e os G-20, a Comunidade Européia, o Mercosul, o BRIC e as articulações políticas, sindicais, sociais (penso no MST e na Via Campesina e outras) se encontrarem para pensar saídas para crise, deve-se pressupor em todos a boa vontade. Se alguém vai para a reunião para só garantir o seu, sem pensar no todo, acaba nem mais podendo garantir o seu, dado o entrelaçamento existente hoje de tudo com tudo. Repito uma velha metáfora: desta vez não há uma arca de Noé que salva alguns. Ou nos salvamos todos ou pereceremos todos.
Então, a boa-vontade, como valor universal, deve ser cobrada de todos. Caso contrario, não há como salvaguardar as condições ecológicas da reprodução da vida e assegurar razões para vivermos juntos. Na verdade, vivemos num estado de permanente guerra civil mundial. Com a boa vontade de todos podemos alcançar uma paz possível.
Não menos significativa é a contribuição do filósofo judeu-alemão Martin Buber. Em seu livro Eu-Tu de 1923 mostra a estrutura dialogal de toda existência humana pessoal e social. É a partir do tu que o eu se constitui. O “nós” surge pela interação do eu e do tu na medida em que reforçam o diálogo entre si e se abrem a todos os demais outros, até ao totalmente Outro.
Paradigmática é esta sua afirmação: “se vivermos um ao lado do outro (nebeneinander) e não um junto com o outro (miteinander), acabaremos ficando um contra o outro (gegeneinander).
Isso se aplica à situação atual. Nenhuma equipe pode tomar medidas ao lado das outras, sem estar junto com as outras. Acabará ficando contra os outras. Ou todos colaboram para uma solução includente ou não haverá solução para ninguém. A crise se aprofundará e acabará em tragédia coletiva.

























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