22/06/2009 _ Rita _ 10:30hs
SENSIBLIZAÇÃO: A Well's Dairy, em LeMars, Iowa (EUA),
tem 3 mil funcionários e vende o sorvete Blue Bunny em todo o mundo. A recente
consolidação da indústria impôs um desafio. Em 2002, os maiores revendedores
disseram que transportariam somente produtos de grandes fabricantes. Segundo
Tom Posey, vice-presidente de capacidade organizacional, para ser viável em
longo prazo, a empresa deveria estar entre as três maiores do ramo, o que
significava elevar vendas, desenvolver uma rede de distribuição eficiente e um
controle rigoroso das finanças.
Um dos maiores
desafios enfrentados pela equipe executiva recém-constituída foi encontrar
meios para resolver conflitos. Num esforço para tornar a rede mais eficiente, a
companhia introduziu um novo sistema de armazenamento dos estoques e redefiniu
procedimentos para o transporte de produtos. Porém, conflitos internos da
equipe executiva representavam um detalhe crítico que nunca seria resolvido sem
um treinamento coletivo. Motoristas não encontravam os produtos de que
necessitavam e eram obrigados a multiplicar as viagens para o carregamento de
seus caminhões. Ao perceber que a equipe precisava de ajuda profissional, Posey
levou um instrutor do Centro de Lideranças Criativas de Greensboro, Carolina do
Norte. Em seis meses, os membros da equipe aprenderam a administrar os
conflitos, o que resultou em decisões melhores e mais rápidas. As vendas
aumentaram, a empresa conquistou maior participação de mercado, e os
integrantes desafiam-se abertamente.
As pessoas não
entendiam por que seus colegas reagiam de um determinado modo. Para preencher
essa lacuna de conhecimento, instrutores propuseram aos membros da equipe da
Wells' Dairy estimativas determinadas por eles mesmos, como avaliação de
qualidade. O instrutor dividiu as descobertas com o grupo, destacando como os
conflitos e as transformações na empresa podem ajudar ou atrapalhar o processo
de produção. Depois que todos os integrantes do time executivo da WellsDairy
realizaram avaliações, o instrutor mediou a discussão sobre o impacto de
diferentes personalidades no dia-a-dia.
Estamos em meados do ano de 2.009 e já começamos a nos preocupar com o que
poderá acontecer em 2010, que aparentemente exigirá muito trabalho de todos
nós, principalmente daqueles que ainda tiverem trabalho. Não sou pessimista,
muito pelo contrário. Sou uma pessoa que confia na capacidade de construirmos
um mundo melhor e na superação de qualquer dificuldade.
Vamos passando por mais uma crise. Entre as manchetes diárias das cotações
e as inúmeras previsões dos economistas de plantão, ficamos estupefatos com a
queda do Airbus, maravilhados com o desempenho impensável da Susan Boyle (e ela
mais ainda com o inesperado sucesso) e preocupados o tempo todo com o futuro
das nossas carreiras e empresas.
Porém, segundo os governantes, analistas financeiros, empresários e outros
representantes da sociedade, é muito grave a atual crise. Podemos estar
entrando numa crise sem precedentes na história de nossa civilização. Por quê?
Porque não temos a menor idéia do que vamos enfrentar e ninguém viveu algo
parecido em complexidade e dimensão.
Todo o Brasil vivia até poucos meses atrás uma expectativa de que, enfim,
iniciávamos um período de grande crescimento econômico depois de tantos anos
ouvindo que éramos o país do futuro. E tudo levava a crer que o futuro se
tornara presente. Ledo engano. Mais uma vez vimos nossas esperanças virarem pó,
e o presente novamente virou futuro.
Ouvi de amigos o comentário de que saímos do céu para o inferno sem escala.
Em poucos dias a euforia transformou-se em depressão e as pessoas começaram a
temer pelo seu futuro. Desinformação, informações incorretas ou exageradas
criaram um pânico generalizado que transformou as Bolsas de Valores de todos os
países em montanhas-russas, com oscilações absurdas e perdas estratosféricas
para toda a sociedade.
Acredito que sim, temos que repensar o nosso modelo mental, reformulando
nosso plano de vida diante dessa nova perspectiva e desse cenário. Não será
fácil até por que há um número muito grande de pontos e possibilidades ainda
desconhecidos de todos nós.
Essas mudanças exigirão muita determinação, dedicação, coragem, trabalho e
fé em nós mesmos e nos outros. Teremos que aprender a compartilhar mais, a
dividir com quem mais precisa, e a olhar com novos olhos, considerando agora
mais os interesses comuns e menos os individuais.
Não há espaço para atitudes mesquinhas nesta hora de grandes perdas. A
união de todos na busca por melhores soluções é que permitirá que possamos sair
dessa crise com mais experiência, organização e, principalmente, mais preparado
para construir um mundo melhor e mais justo, um mundo sustentável. É isso que
vai nos permitir começar uma nova fase na história da humanidade.
O caos pode ser criativo, dando origem a
outra ordem diferente e melhor. A crise teria, portanto, uma função
purificadora, abrindo espaço para uma outra oportunidade de produção e de
consumo.
Não precisamos recorrer ao ideograma chinês
de crise para saber de sua significação como risco e oportunidade. Basta
recordar a sânscrita matriz das línguas ocidentais.
Em sânscrito, crise vem de "kir"
ou "kri" que significa purificar e limpar. De "kri" vem
também crítica que é um processo pelo qual nos damos conta dos pressupostos,
dos contextos, do alcance e dos limites seja do pensamento, seja de qualquer
fenômeno. De "kri" se deriva, igualmente, crisol, elemento químico
com o qual se limpa ouro das gangas e, por fim, acrisolar que quer dizer
depurar e decantar. Então, a crise representa a oportunidade de um processo critico,
de depuração do cerne: só o verdadeiro fica, o acidental cai sem
sustentabilidade.
No campo da Psicologia, em particular da Psicologia do Desenvolvimento, o
conceito de crise é explicado como toda a situação de mudança a nível
biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo, um esforço
suplementar para manter o equilíbrio ou estabilidade emocional. Corresponde a
momentos da vida de uma pessoa ou de um grupo em que há ruptura na sua
homeostase psíquica e perda ou mudança dos elementos estabilizadores habituais.
Todos nós temos os
momentos de crises, as fases mais difíceis. A vida vai seguindo seu curso, tudo
correndo normalmente, até que chega um momento em que os problemas aumentam. A
dificuldade se intensifica, acontecem surpresas desagradáveis: é a hora da
crise. Pode ser uma doença grave, reveses financeiros, dificuldades de
relacionamento, perda de entes queridos, seja pela desencarnação, ou por
abandono de uma das partes, o lar desfeito, etc. Quem vive tranqüilamente, sem
maiores dificuldades, deve se preparar para os momentos difíceis, que
certamente chegarão. Sim, porque todos passamos ou passaremos por eles. Até
mesmo aquele que parece indene a tais dificuldades, da morte do corpo, ou seja,
da desencarnação, ninguém escapa. E o momento da passagem para o outro plano da
vida certamente se constitui num momento difícil, num teste sério.
A crise é como a
prova que o estudante faz para ser promovido a um estágio superior. Durante o
ano letivo, o estudante trabalha com as matérias do programa, recebe a
orientação dos professores, tem todas as oportunidades para se preparar para o
dia da prova. Realiza exercícios, participa das aulas, faz pesquisas, enfim tem
toda a liberdade e apoio para realizar o aprendizado. Porém, no momento do
teste, deverá demonstrar o que aprendeu. Não poderá valer da ajuda de colegas,
nem recorrer a fontes de consulta, nem a apontamentos.
As crises da vida
são assim como a prova referida, como esse teste a que o estudante se submete.
E vale notar que assim como o teste na escola, ou uma prova num concurso, é
realizado para uma promoção, para o bem do candidato; assim também os testes da
vida ocorrem para o bem, para o progresso da criatura. Sua finalidade é o
aperfeiçoamento do Espírito, fazer com que ele ganhe mais confiança em si mesmo
e em Deus; conquiste uma situação melhor.
E como reagimos a
esses testes, às crises da vida? O candidato que se submete a um concurso para
obter um emprego, e o estudante que faz a prova com vistas a "passar de
ano", fazem-no de bom grado, ciente de que é para o seu bem. Tais provas
não são realizadas para sacrificar, simplesmente, o candidato, e sim visando
aferir sua capacidade, para uma promoção. Desta maneira devemos enfrentar as
crises da vida, os momentos de dificuldade, que acontecem não para massacrar,
mas para nos promover. Vê-los como um desafio é uma atitude de sabedoria.
Há três formas de
reação, nessas ocasiões:
1.°) há os que se
revoltam. "Por que Deus fez isto comigo?" - dizem. Como se Deus os
estivesse punindo, caprichosamente. E chegam, mesmo, a "brigar" com
Deus, afastam da religião, dizem que perderam a fé. (Será que possuíam fé?).
São os revoltados. Esses, ao que tudo indica, não passaram no teste. Terão que
repetir a lição. Acrescentam dores desnecessárias ao processo evolutivo.
2.°) Há os que se
deixam abater. Passam a se considerar derrotados, vencidos, apassivados diante
de outras situações. Tornam-se pessimistas, amargurados. Também não lograram
êxito no teste.
3.°) Finalmente há
aqueles que, conforme diz a letra da música popular, "levantam, sacodem a
poeira e dão a volta por cima". São os regenerados, os que recebem a
crise, a dificuldade, aceitam-na sem se acomodarem. Reúnem suas forças,
recorrem à oração, e com confiança em Deus e em si próprios vão superando as
dificuldades. Aproveitam plenamente o benefício da experiência. A crise, a dor
forte, revela-lhes a coragem, a fé fortalecida, e a capacidade de luta.
A crise pode ser definida como uma fase de perda, ou uma fase de
substituições rápidas, em que se pode colocar em questão o equilíbrio da
pessoa. Torna-se, então, muito importante a atitude e comportamento da pessoa
face a momentos como este. É fundamental a forma como os componentes da crise
são vividos, elaborados e utilizados subjectivamente.
A evolução da crise pode ser benéfica ou maléfica, dependendo de fatores
que podem ser tanto externos, como internos. Toda a crise conduz
necessariamente a um aumento da vulnerabilidade, mas nem toda a crise é
necessariamente um momento de risco. Pode, eventualmente, evoluir negativamente
quando os recursos pessoais estão diminuidos e a intensidade do stress
vivenciado pela pessoa ultrapassa a sua capacidade de adaptação e de reacção.
Mas a crise é vista, de igual modo, como uma ocasião de crescimento. A
evolução favorável de uma crise, conduz a um crescimento, à criação de novos
equilíbrios, ao reforço da pessoa e da sua capacidade de reacção a situações
menos agradáveis.
Assim, a crise evolui no sentido da regressão, quando a pessoa não a
consegue ultrapassar, ou no sentido do desenvolvimento, quando a crise é
favoravelmente vivida.
O individuo passa por várias crises desde os seus primeiros dias de vida
até ao final da adolescência. Nesta perspectiva, a crise é maturativa,
proporciona aprendizagem.
CRIATIVIDADE NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS _ Por: Maria
Inês Felippe
O conflito pode ser comparado com a evolução da
espécie: aqueles que sobrevivem são os que vão se adaptando ou
transformando-se.
Empresa é um lugar privilegiado de conflitos
pessoais, profissionais, de interesses, de ideologias, assim como atender
clientes e negociar.
As crises existenciais percorrem a nossa vida desde
o nascimento, na infância, na adolescência, na juventude, na fase adulta, nos
relacionamentos interpessoais, na escolha da profissão, na aposentadoria, etc.
Podemos perceber o conflito como risco ou
oportunidade, o que exige de nós uma atitude pró-ativa, levando por terra o
ditado popular "depois da tempestade vem a bonança".
1)A falta de imaginação atua como responsável e
geradora de conflitos: as partes se recusam a imaginar o que os outros podem
fazer, pensar ou sentir. As pessoas agem como se desconhecessem as diferenças.
2)Somente escutar as pessoas não garante a sua
resolução. Entender e trabalhar questões da diversidade passa a ser fundamental
para uma administração moderna.
3)Quando falamos de diversidades, não estamos nos
referindo a raça, sexo ou religião, ou diferenças no mesmo nível hierárquico,
mas estamos nos referindo à formas de pensamento e ideologias, em todos os
níveis hierárquicos, tanto horizontal como vertical.
4)O silêncio poderá ser uma grande fonte de
indicativo de conflitos, sua resolução poderá dar-se através da negociação
5)Negociar é alcançar objetivos através de um acordo
em situações que ocorrem pensamentos divergentes e convergentes. Faz parte da
nossa vida desde os povos primitivos. Viver é negociar.
6)Exercícios de pensamento lateral e técnica de
solução criativa de problemas poderão facilitar no ato de resolução do
conflito.
7)A criatividade no processo de resolução de
conflitos favorece a flexibilidade, oferece melhor aproveitamento da
diversidade e da conciliação de situações opostas, encarando e conduzindo a
negociação a favor de ambas as partes. Ela favorece enxergar o que todos
enxergam, mas visualizando coisas diferentes, transformando riscos em
oportunidades, identificando algo a mais do que o cotidiano, favorecendo
contornar objeções, agindo proativamente.
A pessoa pró-ativa e criativa possui uma postura
sempre firme em relação aos diversos problemas que enfrenta, não só no mundo
corporativo como também diante da vida. Ela não quer fazer parte do problema,
mas sim da solução. Considerando a economia globalizada em que vivemos, cada
vez mais temos de pensar criativamente e agir estrategicamente. Cabe ressaltar:
É uma questão do ponto de vista. Podemos perceber o conflito como algo: Já que
todos os problemas são solucionáveis, é importante que sejam bem definidos.
Procure idéias e resolva criativamente. Temos que ter cuidado na resolução dos
conflitos para não gerar outros.
O que percebemos é que, por alguma razão, parece que
a natureza humana exige que as pessoas ajam rapidamente quando enfrentam um
problema. Quando surge uma dificuldade, elas buscam a resolução sem clarificar
ou analisar o problema. Como conseqüência, elas não resolvem os problemas ou os
resolvem equivocadamente, causando, assim, outros conflitos, provocando o
sentimento de frustração.
Yazaki, um empresário japonês, contado pela física quântica Danah Zohar,
num precioso livro que aconselharia aos empresários a lê-lo “A Inteligência
Espiritual”, herdou uma pequena empresa de mala direta. Expandiu-se pelo mundo
inteiro. Conseguiu tudo o que queria: sucesso, riqueza, respeito da comunidade
e uma família integrada. Mas sentia que algo lhe faltava. Corroia-o grande
vazio interior. Sugeriam-lhe que frequentasse um mosteiro zen. Passou lá uma
semana em meditação com um mestre respeitado. Encontrou-se com seu eu profundo
e a conexão que ele mantém com o todo. Deu-se conta de que os bens materiais se
mostravam ilusórios porque não o preenchiam, apenas lhe davam satisfação
material.
Saiu do mosteiro com um outro olhar. Começou a perceber a beleza de uma
cerejeira em flor e a singeleza de um caqui maduro. Em sua auto-biografia
escreveu:”Os seres humanos separaram o eu do mundo, a natureza da humanidade e
o eu pessoal dos outros eus. Por isso caíram na armadilha das ilusões no
esforço de preencher o eu vazio. E se
fizeram vítimas fatais de um aterrador cenário de autoengano, de hipocrisia e
de farisaísmo”.
A experiência espiritual não o levou a abandonar o negócio. Deu-lhe um
outro sentido. Trocou o nome da empresa, chamando-a de “Felicíssimo”,
combinação de “feliz” das línguas latinas. A acumulação devia destinar-se a
aumentar a felicidade humana, dele e a dos outros. Esteve na Rio-92 para
inteirar-se dos problemas ambientais. Destinou grande parte de sua fortuna a
fundações que cuidam da educação e do ambiente. Termina seu livro dizendo:
“servir nesse nível é servir a Deus”. Com ele, a crise foi superada e a
humanidade deu um pequeno salto na direção daquilo que deve ser.
Leonardo Boff é autor do livro “Responder florindo: da crise de civilização
a uma revolução realmente humana”,Garamond, Rio.
Há uma fábula que mostra o a autenticidade do ser: É sobre uma centopéia
que sabia dançar bem e chamava muito a atenção por isso. Uma tartaruga invejosa
perguntou à centopéia em que seqüência ela mexia suas 100 perninhas enquanto
dançava. Aí, a centopéia, pela primeira vez, parou para pensar sobre o assunto
e... desaprendeu a dançar.
Não desperdiçar as oportunidades da crise _ Leonardo
Boff
Face ao cataclismo
econômico-financeiro mundial se desenham dois cenários: um de crise e outro de
tragédia. Tragédia seria se toda a arquitetura econômica mundial desabasse e
nos empurrasse para um caos total com milhões de vítimas por violência, fome e
guerra. Não seria impossível, pois o capitalismo, geralmente, supera as
situações caóticas mediante a guerra. Ganha ao destruir e ganha ao reconstruir.
Somente que hoje esta solução não parece viável, pois uma guerra tecnológica
liquidaria com a espécie humana; só cabem guerras regionais sem uso de armas de
destruição em massa.
Outro cenário
seria de crise. Para ela, não acaba o mundo econômico, mas este tipo de mundo,
o neoliberal. O
caos pode ser criativo, dando origem a outra ordem diferente e melhor. A crise
teria, portanto, uma função purificadora, abrindo espaço para uma outra
oportunidade de produção e de consumo.
Não precisamos recorrer ao ideograma chinês
de crise para saber de sua significação como risco e oportunidade. Basta
recordar a sânscrita matriz das línguas ocidentais.
Em sânscrito, crise vem de "kir"
ou "kri" que significa purificar e limpar. De "kri" vem
também crítica que é um processo pelo qual nos damos conta dos pressupostos,
dos contextos, do alcance e dos limites seja do pensamento, seja de qualquer
fenômeno. De "kri" se deriva, outrossim, crisol, elemento químico com o qual se limpa
ouro das gangas e, por fim, acrisolar
que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa a oportunidade de
um processo critico, de depuração do cerne: só o verdadeiro fica, o acidental
cai sem sustentabilidade.
Ao redor e a partir
deste cerne se constrói uma outra ordem que representa a superação da crise. Os
ciclos de crise do capitalismo são notórios. Como nunca se fazem cortes
estruturais que inaugurem uma nova ordem econômica, mas sempre se recorre a
ajustes que preservam a lógica exploradora de base, ele nunca supera
propriamente a crise. Alivia seus efeitos danosos, revitaliza a produção para
novamente entrar em crise e assim prolongar o recorrente ciclo de crises.
A atual crise
poderia ser uma grande oportunidade para a invenção de um outro paradigma de
produção e de consumo. Mais que regulações novas, fazem-se urgentes
alternativas. A solução da crise econômico-financeira passa pelo encaminhamento
da crise ecológica geral e do aquecimento global. Se estas variáveis não forem
consideradas, as soluções econômicas, dentro de pouco tempo, não terão sustentabilidade
e a crise voltará com mais virulência.
As empresas nas
bolsas de Londres e de Wall Street tiveram perdas de mais de um trilhão e meio
de dólares, perdas do capital humano. Enquanto isso, segundo dados do
Greenpeace, o capital natural tem perdas anuais da ordem de 2 a 4, trilhões de
dólares, provocadas pela degradação geral dos ecossistemas, desflorestamento,
desertificação e escassez de água. A primeira produziu pânico, a segunda sequer
foi notada. Mas desta vez não dá para continuar com o "business as
usual".
O pior que nos
pode acontecer é não aproveitar a oportunidade advinda da crise generalizada do
tipo de economia neoliberal para projetar uma alternativa de produção que
combine a preservação do capital natural com o capital humano. Há que se passar
de um paradigma de produção industrial devastador para um de sustentação de
toda a vida.
Esta alternativa é
imprescindível, como o mostrou corajosamente François Houtart, sociólogo belga
e grande amigo do Brasil, numa conferência diante da Assembléia da ONU em 30 de
outubro do corrente ano: se não buscarmos uma alternativa ao atual paradigma
econômico em quinze anos 20% a 30% das espécies vivas poderão desaparecer e nos
meados do século haverá cerca de 150 a 200 milhões de refugiados climáticos. Agora
a crise em vez de oportunidade vira risco aterrador.
A crise atual nos
oferece a oportunidade, talvez uma das últimas, para encontrarmos um modo de
vida sustentável para os humanos e para toda a comunidade de vida. Sem isso
poderemos ir ao encontro da escuridão.
Os filósofos e a crise _ Leonardo Boff
Curiosamente, não
são poucos os analistas, que vêem a crise atual para além de suas várias
expressões (energética, alimentaria, climática, econômico-financeira) como uma
crise da ética.
Mesmo que a crise
demande um novo paradigma para ser sustentável em longo prazo, é urgente
encontrar medidas imediatas para que todo o sistema não sossobre, levando tudo
de roldão. Seria irresponsabilidade não tomar medidas ainda dentro do sistema,
mesmo sem uma solução definitiva.
Vejo dois valores
éticos fundamentais que devem estar presentes para que a situação encontre um
equilíbrio aceitável. Dois filósofos alemães nos podem iluminar: Immanuel Kant
(+1804) e Martin Buber (+1965). O primeiro se refere à boa-vontade incondicional
e o segundo à importância da cooperação.
Diz Kant em sua
Fundamentação para uma metafísica dos costumes (1785): “Não existe nada em
nenhum lugar do mundo nem fora dele que possa ser considerado irrestritamente
bom senão a boa vontade”. Que ele quer dizer com isso? A boa vontade é a única
atitude que, por sua natureza, é somente boa e à qual não cabe nenhuma
restrição. Ou a boa vontade é boa ou não há boa vontade. Ela é o pressuposto
primeiro de toda ética. Se alguém desconfiar de tudo, se colocar tudo em
dúvida, se não confiar mais em ninguém, não há como estabelecer uma base comum
que permita a convivência entre os humanos.
Vale dizer: quando
os G-7 e os G-20, a Comunidade Européia, o Mercosul, o BRIC e as articulações
políticas, sindicais, sociais (penso no MST e na Via Campesina e outras) se
encontrarem para pensar saídas para crise, deve-se pressupor em todos a boa
vontade. Se alguém vai para a reunião para só garantir o seu, sem pensar no
todo, acaba nem mais podendo garantir o seu, dado o entrelaçamento existente
hoje de tudo com tudo. Repito uma velha metáfora: desta vez não há uma arca de
Noé que salva alguns. Ou nos salvamos todos ou pereceremos todos.
Então, a
boa-vontade, como valor universal, deve ser cobrada de todos. Caso contrario,
não há como salvaguardar as condições ecológicas da reprodução da vida e
assegurar razões para vivermos juntos. Na verdade, vivemos num estado de
permanente guerra civil mundial. Com a boa vontade de todos podemos alcançar
uma paz possível.
Não menos
significativa é a contribuição do filósofo judeu-alemão Martin Buber. Em seu
livro Eu-Tu de 1923 mostra a estrutura dialogal de toda existência humana
pessoal e social. É a partir do tu que o eu se constitui. O “nós” surge pela
interação do eu e do tu na medida em que reforçam o diálogo entre si e se abrem
a todos os demais outros, até ao totalmente Outro.
Paradigmática é
esta sua afirmação: “se vivermos um ao lado do outro (nebeneinander) e não um
junto com o outro (miteinander), acabaremos ficando um contra o outro (gegeneinander).
Isso se aplica à
situação atual. Nenhuma equipe pode tomar medidas ao lado das outras, sem estar
junto com as outras. Acabará ficando contra os outras. Ou todos colaboram para
uma solução includente ou não haverá solução para ninguém. A crise se
aprofundará e acabará em tragédia coletiva.
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